Depois de morar e trabalhar várias décadas em Ciçolândia, há alguns anos-luz daqui, resolvi morar nesta terra. Percebi um povo hospitaleiro, mas não hospitalar, como se dizia, pois hopspitalar se refere a hospital, que é o que não existe por aqui. Mas digamos que o povo seja bastante "hospitalar", no sentido de acolhedor, bom anfitrião e outras vantagens. Mas há uma coisa que me atinge os ouvidos com certa frequência. Não me agrada muito, pois me causa a impressão de que minha permanência neste lugar não é legal. Bom, legal no sentido de estar de acordo com as leis. Legal no sentido popular não está mesmo, pois o que me fere constantemente os ouvidos é ver o pessoal não autóctone ser chamado de forasteiro. Eu sou um não-autóctone. Tá bom, leitor, vou dizer o que é autóctone: é a pessoa oriunda do lugar onde está, é o nativo. Não acho muito agradável ser chamado de forasteiro. Quando uma terra recebe pessoas de outras terras, a tendência é enriquecer a própria cultura, ao juntá-la com a daquela pessoa que veio de fora. Então, vamos receber com gosto quem vem de fora. Esse pessoal pode contribuir bastante para a melhoria desse lugar. Pode trazer ideias de sua distante terra. Pode enxergar problemas velhos, que em sua terra foram resolvidos. Pode "ver a coisa de fora", enxergando melhor aquilo que os autóctones não conseguem ver, apesar de bem próxima do seu nariz. Mas se os nativos (assim é mais fácil) não conseguem parar de chamar os que vieram de outras terras de forasteiros, resta-me uma saída: Vou procurar o órgão adequado e requerer meu Green Card. Preciso urgentemente desse documento, para que deixem de me chamar de forasteiro. Afinal, somos todos irmãos, estamos no mesmo barco e podemos muito bem juntar nossas forças para tapar-lhe o buraco, antes que ele afunde. Alguém me diz que órgão devo procurar para obter meu Green Card?